domingo, fevereiro 08, 2015

Benjamin Grosvenor na Casa da Música


Foi o músico britânico mais jovem de sempre a assinar com a editora Decca Classics e o primeiro pianista britânico em quase 60 anos. Benjamin Grosvenor, 22 anos, tornou-se conhecido em 2004, com apenas 11 anos, quando venceu a categoria de piano do concurso BBC Young Musician of the Year. Desde então, nunca mais parou.

Hoje estreou-se em Portugal, na Casa da Música. Um fim de tarde perfeito, embora preferíssemos mais sentimento e menos técnica. 


Programa:

Enrique Granados 3 peças de Goyescas 

Crítica de Pedro M. Santos, no Público
Um Benjamin promissor

A Gavotte foi executada com delicadeza e elegância, sobretudo pela requintada ornamentação do tema, transportando o ouvinte para o universo barroco. Ao longo das seis variações, o pianista respeitou o carácter e a transparência de uma partitura originalmente escrita para cravo, não deixando no entanto de explorar articulações e nuances de intensidade próprias do idioma pianístico, conseguindo assim um excelente equilíbrio entre a singeleza do original e a maior expansividade sonora do piano.

A transcrição para piano que Ferruccio Busoni realizou da Chaconne para violino solo de Johann Sebastian Bach é frequentemente apresentada em recitais a solo, pois representa um enorme desafio técnico e interpretativo. Tal deve-se à concepção sonora amplamente pianística que a transcrição propõe e que justifica a sua autonomia face à obra original. Esta amplificação sonora faz com que a obra pareça originalmente escrita para piano, constituindo o desafio interpretativo da obra a capacidade do pianista explorar as “novas” potencialidades então sugeridas.

A interpretação de Grosvenor foi totalmente ao encontro da concepção que Busoni imprimiu na transcrição, revelando um forte sentido interpretativo nesta exploração, respeitando simultaneamente a transparência das texturas polifónicas e o sentido dramático do discurso musical.

Grosvenor concluiu a primeira parte do concerto com a execução de Prelúdio, Coral e Fuga, de César Franck, evidenciando propósito estilístico e formal no repertório escolhido. Nesta obra, o pianista soube equilibrar a austeridade bachiana com o pathos romântico, proporcionando uma interpretação muito convincente.

A segunda parte começa com um conjunto de obras de Frédéric Chopin, menos expansivas, onde o pianista nos dá a conhecer um repertório mais intimista que constituiu um interessante contraste com a primeira parte. A excelente interpretação destas peças, em particular das duas mazurcas e da 3ª Balada, revelou igual qualidade interpretativa num repertório menos espectacular, confirmando assim a maturidade musical de Grosvenor (pois não é só com músculo e fogo de artifício que se constrói um excelente recital de piano).

Nas três peças de “Goyescas” que finalizavam o programa, Grosvenor aliou delicadeza, forte sentido lírico e um bom equilíbrio entre o intimismo e a extroversão emocional que caracterizam a obra de Granados. Deste modo, o pianista proporcionou uma interpretação muito segura e expressiva, fazendo com que parecesse ser fácil tocar a música deste compositor.

Grosvenor executou ainda dois encores pouco conhecidos – La fuente y la campana, de Frederico Mompou, e o Capricho em fá menor Opus 28/6, de Ernö Dohnányi –, cuja interpretação foi também de elevada qualidade.

Apesar de ser um jovem de apenas 22 anos, Benjamin Grosvenor demonstrou uma enorme maturidade técnica e musical, abordando todas as obras do recital com o mesmo grau de profundidade e de rigor interpretativo. A sua performance teve um nível de qualidade muito elevado do início ao final do concerto, merecendo sem qualquer dúvida os calorosos aplausos do público e fazendo antever uma carreira muito promissora.

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