sexta-feira, dezembro 02, 2011

Tony Judt: Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos


É claro que nunca nada é tão bom como nos lembramos. (...) Para uma geração anterior de reformadores, de Washington a Estocolmo, fora evidente que a justiça, a igualdade de oportunidades ou a segurança económica eram objectivos comuns que só podiam ser alcançados pela acção conjunta. Quaisquer limites de regulamentação e controlo excessivamente intrusivos e vindos de cima eram o preço da justiça social - e um preço que valia a pena.

Um grupo mais jovem via as coisas de modo muito diferente. A justiça social já não preocupava os radicais. O que unia a geração dos anos 60 não era o interesse geral, mas as necessidades e os interesses de cada um. O individualismo - a afirmação da exigência de cada pessoa da máxima liberdade privada e da liberdade irrestrita para a expressão de desejos autónomos, e de vê-los respeitados e institucionalizados pela sociedade em geral - tornou-se a divisa da esquerda. Fazer o que se entender, não se reprimir, fazer amor não a guerra; não são metas desprovidas de atracção intrínseca, mas na sua essência são objectivos privados, e não bens públicos. Não admira que conduzissem à afirmação muito difundida de que "o pessoal é político".

(...) Por muito legítimas que sejam as reivindicações dos indivíduos e a importância dos seus direitos, sublinhá-los acarreta um preço inevitável: o declínio de um propósito de vida partilhado. Outrora procurava-se na sociedade - ou classe, ou comunidade - o vocabulário normativo individual: o que era bom para todos era por definição bom para qualquer um. O inverso, porém, não é válido. O que é bom para uma pessoa pode ter ou não ter valor ou interesse para outra. 

Sem comentários:

Enviar um comentário