terça-feira, outubro 25, 2011

A educação no mundo global: novos desafios


Num artigo de Einstein publicado no The New York Times, em 1952, havia umas considerações sábias sobre a educação, feitas na sua maturidade, que merecem ser recordadas. Dizia: “Não é suficiente um ensino especializado. Através dele a pessoa transforma-se numa máquina útil, mas não num ser harmonicamente desenvolvido.” Ainda que mais aplicável à situação norte- americana, é de se ter em atenção para se criar seres humanos completos. “É importante que o estudante adquira um entendimento e vivo sentir dos valores.” Os educadores devem reflectir sobre eles e interiorizá-los, para os transmitirem de modo simpático. “O estudante deve ter um sentido nítido do belo e do que é moralmente bom. (...) Deve aprender a entender os motivos dos seres humanos, os seus entusiasmos e os seus sofrimentos de modo a ter uma relação adequada com as pessoas e com a comunidade. Estes aspectos valiosos são levados às gerações mais novas pelo contacto pessoal de quem ensina; não, pelo menos no essencial, através de livros de texto.” Sabemos o valor da dedicação dos professores e o tempo que os pais, em particular a mãe, dispensa aos filhos.

“Resultado de uma boa educação é que se desenvolva nos jovens um pensamento independente e crítico, o que pode ficar prejudicado pela sobrecarga de muitas e variadas matérias”; tal sobrecarga leva à dispersão e à superficialidade, como acontece em geral nos programas do nosso ensino: enciclopédico e de fraco conteúdo. Tenho para mim que hoje Einstein acrescentaria: importante é o domínio e uso da informática, sabendo que é apenas uma ferramenta útil. Fundamental é pensar de modo lógico, ordenado, rigoroso!

Outro pensador que continua a produzir escritos de valia, Charles Handy, irlandês, define um factor “ E”, que provoca Emoção, Entusiasmo, Esforço, Efervescência..., no estudante. Cita o testemunho de uma professora do ensino básico: “ O que muito me emociona é ver um rapaz ou rapariga que começa a dar-se conta de que sobressai em algo. Vejo que os seus olhos brilham, que toda a sua personalidade cobra vida, que nasceu um ser novo. Este tipo de emoção é indiscritível.” Quando os educadores – pais, professores – têm o dom de estimular a criança naquilo em que pode sobressair, aí entra o factor “ E” em acção. Pensamos que só são inteligentes os que têm um bom raciocínio lógico-matemático. Há felizmente vários tipos de inteligência, como o psicólogo Gardner nota. O Ronaldo terá a inteligência “corporal-cinestésica”; o Mourinho, a “interpessoal”, etc., para usar a linguagem de Gardner. Cada um deles é inexcedível no seu métier. Somos influenciados pelas expectativas que outros têm sobre nós – positivas ou negativas –, sobretudo daqueles que mais prezamos: pais, professores, colegas. Importa que elas despertem o nosso factor E.

Alguém rematava que “em lugar de um curriculum nacional para a educação, o que realmente importa é um curriculum individual para cada criança”. Precisamente a “personalização” do ensino deve procurar fazer isso, e os bons professores fazem-no, seguindo o ritmo e as aptidões de cada criança. Estamos a viver um momento ímpar da História da Humanidade que vejo como de ouro. E não estou a ser cínico, mergulhados como estamos numa profunda crise. Porque para muitas centenas de milhões de pessoas, das zonas mais pobres do globo, este é um grandioso momento, cheio de esperança, para a recuperação do sentido de dignidade que até aqui lhes fora negado. Refiro-me aos países pobres do Oriente, que foram capazes, apenas pelos seus meios, de se organizar e ultrapassar as teias de pobreza e miséria que os enredavam, na sequência da exploração colonial primeiro e, depois, da adopção de modelos económicos socialistas, estéreis e corruptores ( como na Índia e China). Eles estão a dar instrução generalizada a todas as crianças; assistência na doença cada vez mais capilar e difundida; e, sobretudo, tentam criar trabalho para todos poderem ganhar a sua vida.

Eles têm forte impacte no Ocidente, com o que trabalham e exportam, como sentimos todos os dias. Porque na sua pobreza habituaram-se a uma vida duríssima, exigente, disciplinada no trabalho, e a troco de muito pouco. E num mundo global como o nosso, a Europa não pode descansar nos louros antigos, no consumismo corrosivo, na fraca produtividade, na preguiça mental, sob pena de soçobrar inevitavelmente como aconteceu com Roma Antiga. Tem de reagir e muito depressa. Começando pela educação dos mais jovens: encarando-a a sério – movidos pelo exemplo de trabalho árduo dos mais velhos, que se verão obrigados a isso –, para formar pessoas com saber, com determinação de trabalhar, organizadas e exigentes consigo. E a crise ocidental actual é a grande oportunidade de desencadear uma inteligente reacção para acabar com os vícios e exageros, e evitar a todo o custo a tentação de se fechar sobre si mesmos. Os desafios exteriores são benéficos por obrigarem ao esforço de superação.

[Eugénio Viassa Monteiro, hoje, no DN]

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