quarta-feira, julho 21, 2010

Best of Rock Festival 2010. Parte I

Porque um palco pode ser um altar. Porque percorrer festivais de Norte a Sul pode ser uma peregrinação de fé. Porque há concertos que são milagres. Porque Deus pode ser plural - e profano. Porque há promessas que se cumprem com os ouvidos. Porque às vezes não é preciso mais nada para chegarmos ao céu. Sãos, salvos e felizes. Porque no ano em que decidimos pendurar as botas de festivaleiros, assistimos numa só semana à maior concentração de música com capacidade para nos ressuscitar e fazer acordar com o pé direito noutra rota. Banda sonora para "dar de beber à dor" e mudar de vida. O enorme, gigante abrigo dos XX, que à terceira foi de vez. "Talvez eu tenha dito alguma coisa errada, mas eu sou capaz de fazer melhor com a luz acesa". Três britânicos no Alive e uma multidão compacta a cantar as canções todas de cor durante aqueles 40 minutos que pareceram 40 segundos. "Isto nunca me aconteceu", exclamou, incrédulo, Romy Madley Croft. A nós também não. Um doce regresso ao passado com Manic Street Preachers, revisitada adolescência a trautear Motorcycle Emptiness com a fúria de quem ainda acredita que no fim os maus são eliminados e ganham os bons. "Tudo o que nós queremos de vocês são os pontapés que vocês nos deram. A vida é um suicídio lento...". A brutal apoteose com Pearl Jam, milhares de braços no ar, vozes afinadas a cantar Betterman, a espinha a arrepiar-se de comoção. "Ela mente e diz que o ama, que não pode encontrar homem melhor, ela sonha em cores, sonha em vermelho, não pode encontrar homem melhor." Eddie Vedder avisou logo no início: "Aproveitem bem esta noite, não sabemos quem estará cá amanhã." Saiu com o país ajoelhado aos pés e a bandeira de Portugal às costas. É coisa para nunca mais se esquecer. E ainda houve lugar para uma deliciosa surpresa, Florence & The Machine. A britânica Welch diz que é tímida, mas ali, ela e o seu longo vestido branco foram oração solene. "Às vezes,  ergo as minhas mãos no ar, eu sei que posso contar contigo. Às vezes, apetece-me dizer: «Senhor, eu não me importo.» Mas eu sei que tu tens o amor de que eu preciso para me conhecer. Às vezes, parece que é tudo tão duro e que tudo corre mal, faça eu o que fizer. Agora e depois, parece que a vida não é suficiente, mas eu sei que tu tens o amor de que eu preciso para me conhecer."

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