domingo, maio 23, 2010

Ainda a professora Bruna...

[Não, esta não é a Bruna...]

Terminado o campeonato, ainda por cima com o Papa a ofuscar a comemorações dos benfiquistas, e com um Mundial, que não entusiasma sequer os tolos, ainda a três semanas de distância, a professora Bruna de Mirandela fez mais pela líbido deste país do que faria uma nova declaração de Teixeira dos Santos a garantir que afinal não há aumento de impostos para ninguém. E isto, sendo e parecendo primário, dirá muito do que move o nosso pequeno portugalito.

Não foi sem enorme espanto que, ao abrir a imprensa deste fim-de-semana, percebi que abundavam ainda - o caso tem 15 dias - as crónicas, os comentários e os artigos sobre a mulher de 27 anos que decidiu, na plena posse das suas faculdades mentais e direitos individuais, despir-se para a Playboy e que, por causa disso, e de um país que insiste em não despir, ele próprio, a capa de hipocrisia que o mascara, perdeu o emprego de professora de música.

O assunto é picante(zinho), tem alguma piada, roça o surrealismo. E quem tem de escrever para os jornais com assiduidade, adora assuntos picante(zinhos), com alguma piada, que se prestem a dissertações capazes de competir, pelo recambolesco, com os episódios que os motivam. Nada contra. Ou quase nada. Mas quem escreve para os jornais, adora também uma coisa insuportável: exagerar a defesa, despenhando-se numa tremenda falsidade. Porque não é defesa; é uma espécie de entretenimento.

Que defendam a Bruna, parece-me muito bem. Que falem do assunto até que alguém, que não ela, core de vergonha, parece-me ainda melhor. O que já me parece muito, muito mal, é que na mesma cidade transmontana, na mesma Mirandela, tenha há menos de dois meses morrido uma criança, porque saiu da escola em pleno período de aulas, e que isso não tenha entusiasmado ninguém. A criança morreu afogada no rio depois de ter sido espancada pelos colegas, a escola lavou as mãos das responsabilidade e o culpado, sem surpresa, - ah, o nosso Portugalito! - foi o porteiro. Pena que este assunto não tenha entusiasmado quem escreve e que tenha morrido tão depressa. Uma criança morta é bem mais grave do que uma criança que vê o que seguramente já tinha visto antes: um par de mamas.

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