sábado, abril 24, 2010

Imprensa a criar excêntricos todos os fins-de-semana

"Talvez seja este o segredo da nossa coesão e do facto de sermos uma das nações mais antigas do mundo: só nos interessamos verdadeiramente por nós próprios e a única voz que ouvimos é a nossa, que nos deve soar a todos como uma ária de Puccini cantada por Maria Callas. Como nos filmes passados nos hospitais psiquiátricos, cada um de nós rala-se consigo e com as suas manias. Com a diferença de que não temos o talento do Jack Nicholson e que não há uma médica gira que se interessa pelo nosso caso e não só nos tira dali como acaba por ir para a cama connosco."
Pedro Boucherie Mendes, na estreia da Index, no I

"Os deputados polícias vieram para ficar e com eles as investigações parajudicias, sem meios, sem formação, sem possibilidade de defesa, tudo servido em directo online. Onde antes havia actividade legislativa e se fiscalizava a acção do governo, temos agora o milagre da multiplicação da Comissões Parlamentares de Inquérito e a verdade apurada na confrontação entre notícias de jornais. "
Pedro Adão e Silva, no I

"Só um lírico ou um opositor primário de Sócrates podia achar que a comissão corria da nascente à foz com a oposição a marcar o ritmo. Uma comissão de inquérito em que o primeiro-ministro está potencialmente em xeque? Isso não acontece em nenhum sítio do mundo. Como diria Scolari, esta é uma comissão de mata-mata! Ou se mata ou se morre. O PSD ficou escandalizado com o silêncio de Rui Pedro Soares, mas quer chamar o procurador do caso Face Oculta, como se isso fosse habitual. Não é. São duas faces da mesma moeda. Numa comissão destas vale tudo e vai valer tudo."
Ricardo Costa, no Expresso

"O primeiro-ministro foi inocentado com uma declaração de Rui Pedro Soares que só convence quem se deseja convencer. Mas ao admitir ter usado o nome do primeiro-ministro de forma abusiva, interessa perguntar que atitude tomará Sócrates perante um alto administrador do Estado que anda por aí a usar o seu nome em negociações sortidas. O silêncio de Sócrates será bem pior do que o silêncio do seu fiel amigo."
João Pereira Coutinho, no Correio da Manhã

"Portugal chegou ao 25 de Abril sem uma verdadeira revolução industrial e sem uma verdadeira revolução burguesa. O liberalismo, político ou económico, nunca passou de uma ideologia minoritária, estranha a uma sociedade, no fundo, camponesa e a uma classe média, dependente de um Estado hiperatrofiado e centralizador. Esperar que o dinheiro da Europa, a política do betão, o ensino de massas e as privatizações conseguissem o milagre de a modernizar não passou de uma ilusão e de um erro. Quando se raspa o «o novo português» que o dr. Cavaco tanto contribui para fazer, o que fica é o português indigente e finório, à procura de um «bom negócio». O défice e a dívida, que nos perseguem desde o século XIX, não reaperecem por acaso."
Vasco Pulido Valente, no Público

"A política de restauração de Bento XVI falhou. Todas as suas espetaculares aparições, viagens de exibição e declarações públicas falharam, não influenciando as opiniões da maioria dos católicos em assuntos controversos. Isto é especialmente verdade no tocante a matérias de moral sexual."
Hans Kung, antigo colega de Ratzinger, no P2, em carta aberta directa às feridas

"Simon Johnson é uma alimária. Comparar a situação portuguesa à da Argentina quando faliu em 2001, não é só de mau gosto: é de profunda ignorância. O ex-director do FMI faz parte daquele grupo norte-americano que nunca conseguiu aceitar a afirmação internacional do euro, que se tornou em pouco tempo uma importante moeda de pagamento a nível internacional, ombreando com o dólar - e que o quer atacar a partir dos seus elos mais fracos . (...) O que está em causa não é a Grécia ou Portugal, mas o euro. É a moeda única que está a ser fortissimamente atacada por uma conjugação de interesses anglo-saxónicos amalgamada entre os que querem que o euro impluda e os fundos de investimento de risco, que pretendem ganhar muito dinheiro á custa da desgraça dos outros."
Nicolau Santos, no caderno de Economia do Expresso

"Que um Parlamento aceite ter uma deputada (Inês de Medeiros) por Lisboa a residir em Paris já é coisa bizarra. Que, uma vez confrontado com a situação de facto, se disponha a subsidiar-lhe viagens semanais em executiva é grosso despautério. Que o PS considere este procedimento razoável, em vez de assumir as despesas da sua deputada parisiense, esse é o mais confrangedor dos sinais."
Fernando Madrinha, no Expresso

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