terça-feira, abril 13, 2010

Casa vazia


Chegou a casa pouco depois do entardecer. A casa vazia, muda e às escuras. Tal e qual como ela se sentia: vazia, muda e às escuras. Sentia-se como se tivesse acabado de ser desalojada de um lugar do qual se apropriara indevidamente. E tinha. Apropriado e sido desalojada. Nova mensagem no telemóvel. Não, nada de especial. Mensagem a recordar o jantar, o mundo lá fora, a vida a continuar. Impossibilidade terrível uma vida que continua quando devia cessar. Pediu para começarem sem ela. E deixou-se cair na cama. Chorou até esgotar a última lágrima abraçada aos poemas. Releu todos outra vez, pela milésima vez, como quem ata uma corda áspera à garganta até perder o ar. Até deixar de doer. Não perdeu o ar e aquilo ainda lhe doía quando acordou. Tanto! Sabia lá que poderia ser assim tanto!... Ela não lhe entregara o corpo; consagrara-lhe o coração. E ele deixou-o cair.

Sem comentários:

Enviar um comentário