terça-feira, janeiro 05, 2010

A carta

Dizem-nos que a vida, a nossa, vai mudar a partir de hoje. Ou talvez não já a partir de hoje, mas do momento em que terminarmos (se terminarmos) o que hoje (re)começámos: tirar a carta. Com 14 anos de atraso, pelos vistos, que é suposto, dizem-nos, cumprir o desígnio de liberdade aos 18 anos. Como se a liberdade ficasse automaticamente garantida quando se acciona um motor qualquer. Com 14 anos de atraso e seis de sanção diária, fronteira da data em que nos inscrevemos como beneméritos de uma escola de condução, em que fomos depositando dinheiro (em sucessivas actualizações de licença...), mas não a presença e muito menos dedicação. Adiante.

Pago o documento a preço de caviar, a tarefa, diga-se, não podia ser mais aborrecida, mais desinteressante, mais parecida com uma overdose de Xanax. É preciso algum esforço para não adormecermos numa aula de código. E mesmo muito esforço para encontrarmos ali alguma coisa realmente empolgante. Ah, a liberdade, pois! Sentimo-nos numa espécie de turma das Novas Oportunidades: somos os mais velhos, somos os que sabemos menos e, na verdade, não queremos bem aprender, só queremos o diploma. Depressa, por favor, antes que mudemos de ideias.

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