sábado, dezembro 06, 2008

"Purificados", no TNSJ


"Krzysztof Warlikowski é uma das vozes mais singulares do teatro europeu contemporâneo. Encenador polaco, dividiu a sua formação entre o país de origem e a França, trabalhou com Brook e estudou com Krystian Lupa, Bergman e Strehler, é visitante assíduo de Shakespeare, experimentou Eurípides e Sófocles, mas exerce Koltès ou, como agora nos é dado ver, Sarah Kane.
Exímio na direcção de actores, Warlikowski funda o seu trabalho de encenação num confronto improvável entre psicologia e metáfora. Se lhe interessa o detalhe de cada personagem e o peso de cada uma na economia global do drama, o que aliás nos conduz a momentos de puro deleite teatral, aquilo que é único no seu trabalho deve ser procurado na transposição de cada fragmento de realidade para uma instância maior, para uma tentativa de explicação global do mundo.
Purificados – a história de Grace, heroína perdida que sublima a perda do irmão investindo-se tão radicalmente no seu percurso que lhe assume a identidade – transforma-se aqui numa alegoria cristalina da solidão, da tristeza, do abandono. Como se apenas da profunda treva, do inferno que construímos ao estarmos juntos, pudesse nascer a luz equívoca de um sofrimento que é também redenção, porque é experiência, porque é vida, afinal!"
Escreve Łukasz Drewniak:
"O encenador mostra-nos como é o teatro actual. É um teatro que deixou de ensinar as regras morais básicas e que não dialoga com o passado. Não quer ser analisado por eruditos. Não alivia coisa nenhuma. A função terapêutica do teatro foi para o inferno.
Krzysztof Warlikowski mostra crueldade sem ser literal, sem recorrer ao naturalismo, membros decepados e hectolitros de sangue. O palco é um salão de espelhos e um gabinete de curiosidades, uma sala de dissecação e um ginásio. As pessoas são cortadas com amor – da mesma maneira que se corta com uma serra circular.
Não é possível descrever Purificados de Warlikowski: há palavras que matam e imagens que não nos deixam dormir em paz. A estreia de Purificados marca o início de algo novo e, ao mesmo tempo, extremamente significativo no teatro polaco. Se alguém vos disser que o teatro jovem é mau, superficial ou retrógrado, ripostem que é uma mentira."
Hoje, às 21.30 no TNSJ, aqui

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