domingo, abril 22, 2007

Creep

Ele vai casar num dia qualquer do Verão. Ela vai continuar a espalhar a poeira da desordem em corações masculinos que, ainda não sabem, mas não hão-de recuperar. Ele vai casar com alguém que tem o nome dela, mas que não é ela. Diz a rir que assim que nunca se engana. Ela não se perdoa, mas também não se arrepende de ter traído com ele o namorado que, por causa disso, perdeu. Disse que tinha que ser, que sabia que haveria de ser, nem que fosse com o único homem que não merecia. Ele acredita que ela ainda treme quando ele chega. Ela responde que ele nunca andará com ninguém à chuva como anda com ela. Ele confessa que ainda tem ciúmes. Ela recorda-lhe que ele vai casar.

Ele é do Norte. Ela é do Sul. Conheceram-se no mês do Verão que ele escolheu para casar. Há dez anos que falam todas as semanas ao telefone. Nem que seja para dizerem que não têm nada para dizer. Contam os dias para se encontrarem, três, quatro vezes por ano, não mais. E nunca de propósito. É imperativo que haja acontecimentos sociais de ordem colectiva: funerais, casamentos ou celebrações de espécie aproximada. E quando se encontram não se largam. Não é sequer um acordo tácito - é assim, são parte um do outro. Ele vai casar com a namorada que já traiu com ela. Ela limpa os óculos, ri, diz que está tudo bem. Lembra que têm uma canção só deles, como os namorados. Ele diz que não tem uma canção com mais ninguém. "I wish i was special; you're so fuckin' special..."

Sem comentários:

Enviar um comentário