domingo, setembro 24, 2006

Filosofia

Gostei de Filosofia como de poucas disciplinas ao longo dos não sei quantos anos que estudei. Sobretudo a do 12º ano. Sobretudo a de Kierkegaard que, aos 16 anos, me abriu a porta para o maravilhoso mundo dos existencialistas. E para uma parte da própria obra dele, que não era obrigatória nas aulas, mas que se tornaria indispensável para a vida, como "O desespero humano", "Conceito de Angústia" ou "Doença mortal". Kant, por exemplo, entendi mais tarde de uma forma diferente. E Hegel, que era uma espécie de ódio de estimação, sofreu a mesma evolução. A verdade é que senti vontade de voltar a todos eles. E ainda volto, recorrentemente. A Platão, a Sócrates, a Nietzsche... Definitivamente, a Kierkegaard. Sempre.
A disciplina ministrada pela temível mas muitíssimo notável professora Amélia Koellher influenciou como nenhuma outra cadeira aquilo em que, de alguma forma, me tornei. A começar pelo acesso à universidade. Lembro, como se tivesse sido hoje, o dia em que fiz a prova específica. Lembro a noite de véspera e aquela manhã em que a mãe me levou a Vila Real para fazer o exame. Lembro que, talvez pela primeira vez na vida, seguramente pela única vez na vida, tinha consciência de saber realmente alguma coisa sobre um assunto concreto. Tive 98% na prova. Entrei na primeira das seis opões: Comunicação Social, em Lisboa - cidade na qual, por outros motivos, nunca cheguei a viver. Sem filosofia ter-me-ía ficado pela terceira ou quarta opção.
Juro que não entendo por que razão o Ministério da Educação tenciona, no próximo ano lectivo, desvalorizar a disciplina enquanto ferramenta de acesso a um dos 357 cursos que a exigiam. Nem as faculdades com licenciaturas em filosofia podem exigir o exame. Em nome de quê?!

2 comentários:

  1. O embrutecimento anunciado pelos mais pessimistas está a alastrar, é por isso! A minha única esperança é que as epedemias tocam a todos e pode ser que renasça uma necessidade de cura real!

    Até sempre

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  2. As pessoas, sobretudo os ignorantes e os déspotas, têm medo da Filosofia. Têm medo que as pessoas saibam e queiram perguntar porquê? Porque é que o porquê? é tão incómodo? Porque se teima em desperdiçar uma ferramenta que abre janelas ao pensar? Obrigado, Coriscos, por teres colocado esta problemática. Abraço do
    VPB

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