terça-feira, junho 20, 2006

As profecias de VPV

Pode gostar-se mais ou menos. Concordar-se ou nem por isso. Mas é sempre bom ler Vasco Pulido Valente. Desta vez, na sala de entrevistas do Público:
Cavaco Silva: "A única coisa séria que um Presidente pode fazer é dissolver a Assembleia da República, e é por isso que não percebo muito esta discussão sobre o que fez ou não fez nestes seus três primeiros meses. Mas como o único poder relevante é o de dissolver, se chegar esse momento, será julgado pela decisão que tomar."

Mário Soares: "Não se devia ter candidatado (às presidenciais) naquelas condições. Só o devia ter feito tendo a garantia prévia da unidade de toda a esquerda atrás dele. Com toda a gente alinhada, era bem capaz de ter ganho, mas aquela estratégia que aceitou, ou a que se resignou, de ir cada um encher a sua própria casa para depois juntar todos esses eleitorados numa segunda fase era suicida. Até porque agravava as divisões..."
José Sócrates: "Não havia nenhuma expectativa, ninguém o via como salvador, e a prova disso é que fez tudo ao contrário do que prometeu na campanha eleitoral e continua com sondagens óptimas. Isso só se explica porque nunca ninguém esperou muito dele. (...) O que Sócrates tem feito é aparar a sebe: quando este ou aquele ramo da despesa cresce um bocadinho mais, ele vai lá e apara. Um bocadinho nas pensões, um bocadinho nas despesas... Não vai realmente à raiz dos problemas e não se lhe vê uma visão de conjunto."
Marques Mendes: "Seria um bom primeiro-ministro. É uma pessoa organizada, é uma pessoa com visão e é uma pessoa firme. Teve muitos actos de coragem e clarividência, desde as participações no congresso até ter sido o primeiro a dizer que Santana não podia continuar depois daquela derrota."
Governo: "Devia ser mais pequeno. Para além do Ambiente, devia-se reduzir drasticamente a Cultura, ter um Ministério da Ciência é um completo disparate. Com a importância que a Agricultura tem nosso país, bastava uma Secretaria de Estado. Metade daquela gente que há no Ministério dos Negócios Estrangeiros bastava."
Sociedade portuguesa: "Não conhecem a história do pobre? Deram-lhe uma vaca, disseram-lhe para começar por aproveitar o leite, para depois deixar que tivesse vitelos, a seguir vendê-los e por aí adiante. Quando viraram as costas, o pobre matou e comeu a vaca. Quem viveu uma experiência de pobreza, essa cultura atávica, quando as coisas estão boas, aproveita."
Ensino superior: "Tem de se olhar mais para as universidades privadas, exigir-lhes um mínimo de doutoramentos por ano, impedir que utilizem professores das universidades públicas. Mais: as universidades privadas não deviam ter subsídios do Estado. O que as universidades têm de fazer é viver das propinas, é concorrer pelos melhores professores. O mesmo devia suceder com o ensino secundário privado, que devia ser fomentado. O que depois tinha de acontecer é poder-se descontar nos impostos o custo das propinas."
Política camarária: "É ainda pior do que a política nacional. Talvez seja a pior de Portugal."
Jornalismo: "Se no meu jornal tirasse sempre o bebé, o cão, a namorada, chegava ao fim com um jornal óptimo, que ninguém lia. Há umas concessões que se têm de fazer para sobreviver."

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