terça-feira, maio 16, 2006

Fogo cruzado na autarquia

É sempre assim, asseguram-me. Mas a repetição continuada do comportamento institucional não só não diminui a indignação como a potencia. A reunião da Assembleia Municipal do Porto começou ontem às nove horas da noite. Acabou perto da uma da manhã. Havia seis pontos em apreciação. Conseguiu discutir-se e votar-se, apenas, um. Porquê? Não foi pela elevação do debate nem pelo confronto da proliferação de ideias eficazes, que poderiam contribuir para melhorar a vida da cidade e de quem por lá passa, trabalha ou reside. Em quatro horas, o que mais se ouviu foi piadas (más, ainda por cima), insultos disfarçados com uma espécie de celofane - truque que por certo se aprenderá nos meandros políticos -, um fogo cruzado de argumentos que visavam unicamente discutir a discussão. E já não estou a contabilizar os sorrisos cínicos, as expressões de desprezo, os olhares, cúmplices na reprovação.
Numa reunião em que Rui Rio tanto falou, e bem, da pouca produtividade do país, não deixa de ser curioso que seja ele um dos maiores impulsionadores dos desvios do serão. É o maior; está longe de ser o único.
Deixo um exemplo à consideração da navegação:
Pedro Bacelar, do PS, pede a palavra na sequência de um desaguisado entre Rui Rio e o presidente da Junta de Aldoar, Victor Arcos, a propósito dos acessos ao Centro de Saúde daquela freguesia. O socialista diz que não é adequado nem digno brincar com coisas sérias. Sublinha que já não vivemos sob o regime salazarista ou no período estalinista-leninista. Pede basicamente contenção nas reacções do autarca. Mas o autarca, seguro de que o seu público lhe achará piada, responde: "Não entendi nada do que você disse, mas que você fala muito bem, lá isso é uma grande verdade".

1 comentário:

  1. andando para trás depois de ter estado à frente: "sério" (daí a necessidade das aspas)

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