sexta-feira, janeiro 20, 2006

O poder das rosas

Acabo de receber a seguinte mensagem no telemóvel: "Vi a peça da Sic e decidi em quem vou votar: Alegre. Pela esquerda renovadora, progressista e cultural. Com Alegre a presidente, Portugal será grande para sempre." Vindo de quem veio, um amigo estimável, suponho ser uma mensagem irónica. Mas o conteúdo não deixa de me fazer temer que possa ser isto que, mais coisa menos coisa, pensam os cerca de 16% que tencionam votar no poeta. (Já agora, a peça da Sic mostrava o senhor a distribuir rosas. E alguém do seu staff disponibilizou-se a legendar o momento: "Por Portugal, o poder das rosas". Depois do poder da poesia... era só mesmo o que faltava!)
De qualquer forma, Manuel Alegre ganhará sempre, quer fique em segundo lugar e passe à segunda volta (estranha bizarria de um país que, provavelmente, nunca leu o poeta e, seguramente, não reteve dele, porque não existiu, qualquer ideia) ou em quinto. Ganhará porque teve um protagonismo que, mesmo sendo vaidoso, nunca no seu maior devaneio lírico imaginou ter. Ganhará porque, patético, imaginará que vale mais do que Soares. E essa convicção será suficiente para lhe alimentar o ego nos próximos anos. E para que se veja a ele próprio como uma criatura digna de figurar na História. Ganhará ainda porque, ingénuo, não pecebe que o povo votará nele como quem vota no coitadinho da esquina, desgraçadamente traído pelo amigo. Os portugueses adoram um dramazinho, adoram ceder o ombro amigo aos indefesos. Irão votar nele sem saber porquê, só porque sim. Mas ele sairá inflamado, com a alma insuflada depois do seu périplo pelo país.

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